Quando falamos em Coimbra "como uma região de excelência na área da saúde", a Bluepharma é uma empresa de referência incontornável, uma vez que, no sector em que se insere, tem levado o nome de Coimbra de Norte a Sul do país e além fronteiras. Para isso, muito tem contribuído o trabalho desenvolvido, todos os dias e ao longo dos últimos anos, «colocando Coimbra no mapa». Porque, garante Paulo Barradas Rebelo, presidente do Conselho de Administração da farmacêutica, «não basta ter slogans e não basta dizer que se faz. Há que trabalhar todos os dias e é isso que nós fazemos, contribuindo para a afirmação de Coimbra como uma cidade boa para se fazer boa saúde e boa indústria farmacêutica».
Além da Universidade de Coimbra (UC) - com quem a Bluepharma tem uma relação de grande proximidade, afirmando-se como uma empresa escola - e grandes hospitais, a cidade e a região têm na área farmacêutica um conjunto de empresas que se têm vindo a afirmar, «contribuindo para um sector que se desenvolve de forma muito saudável». Na sua génese, a farmacêutica com sede em S. Martinho do Bispo, procurou contribuir para um país e um mundo melhor, identificando, por um lado, as dificuldades dos portugueses em adquirirem os seus medicamentos e, por outro lado, o esforço permanente do Estado para cumprir com as suas obrigações. Assim, «fomos à raiz do problema e como os medicamentos eram de facto muito caros percebemos, desde muito cedo, que era possível fazer qualidade a baixo custo. E portanto a nossa entrada no mercado obedeceu a esta lógica: ir ao encontro das necessidades da população portuguesa e do Estado, que somos todos nós» lembra.
O sector dos medicamentos genéricos permitiu, assim, e de acordo com o responsável, um conjunto de vantagens para Portugal: por um lado, a democratização do consumo de medicamentos, com os preços a apresentarem hoje uma redução «de 100 para 10, cerca de 90%, com os medicamentos genéricos a serem muitíssimo mais baratos e acessíveis que os originais». Neste sentido, recorda, o sector da indústria farmacêutica contribuiu para uma poupança ao Estado «de mil milhões de euros ao ano desde que a Troika esteve em Portugal,contribuindo muito para a sociedade ». Por outro lado, a empresa tinha como ambição ser exportadora, contribuindo para um país mais equilibrado, exportando mais e evitando a importação de medicamentos.
Desta forma, a Bluepharma foi crescendo de forma sustentada, vendendo e empregando mais. «O emprego também era para nós algo de muito importante e penso que também aí temos cumprido porque em 20 anos passamos de 58 pessoas para 750. A Bluepharma é hoje um grupo de 20 empresas, com 750 pessoas a trabalhar. Sinal de que os medicamentos genéricos têm estas vantagens de democratizar o consumo ao doente, de fazer poupar dinheiro ao Estado, de empregar gente e de criar valor», enumera.
Alcançado este propósito, criação de valor e de equipas, a Bluepharma alimentava ainda a ambição de ser, não só uma empresa de produção de medicamentos genéricos, mas também uma empresa dedicada à investigação e ao desenvolvimento, contribuindo para o cluster da saúde em Coimbra. Nesta vertente, tem vindo a desenvolver um conjunto de investigações não só dentro da Bluepharma mas também aproveitando o conhecimento que se faz na UC através de parcerias entre as duas entidades. Paulo Rebelo Barradas é da opinião de que «esta relação entre o conhecimento que é feito nas universidades e a ponte para as empresas é determinante para o sucesso dos países e das economias» e por isso, desde muito cedo, a Bluepharma ligou-se à UC, de quem é hoje um parceiro muito importante. A Bluepharma está, assim, a fazer o seu percurso nesta área da investigação e desenvolvimento. É um caminho «longo, difícil mas que vale a pena ser percorrido». Neste momento, «já temos um medicamento na área do cancro a ser testado em seres humanos. É difícil chegar até esta fase e nós já o estamos a fazer», sublinha. Também está em desenvolvimento um medicamento para a Covid- 19. «Estamos no início de um processo que pode levar anos porque na indústria farmacêutica nada é imediato », refere, ressalvando a excepção das vacinas que foram criadas para combate ao SARS-CoV-2. «É um exemplo muito promissor porque utilizaram todas as ferramentas disponíveis e articularam, numa parceria muito sólida com as autoridades e com toda a cadeia de valor das vacinas, e num ano conseguiram trazer ao mercado um medicamento de qualidade, seguro e eficaz». Com a sua responsabilidade, cuidado e conhecimento, a farmacêutica não podia deixar de dar o seu contributo «numa pandemia que nos está a afectar a todos». Assim contribui para a possibilidade de vir a existir um medicamento para tratamento, que minimize os efeitos e que evite, ou diminua significativamente os internamentos hospitalares.
Por tudo isto, Paulo Barradas Rebelo julga estarem cumpridos, nestas duas décadas de existência da farmacêutica, os seus desígnios: ser uma empresa próxima da população e do Estado, fortemente exportadora, e que desenvolve investigação. «Somos uma empresa que exporta 90% do que faz e essa exposição ao mercado internacional dános uma credibilidade muito grande porque exportamos para praticamente todos os países europeus, nomeadamente para os mais ricos e sofisticados, exportamos também para a Austrália, EUA, Médio Oriente, África e América Latina», refere. Desta forma, a Bluepharma, e Coimbra, estão presentes em todas estas geografias.
Projectos em curso
No âmbito do "Bluepharma Acelera 2030", e com um investimento total de 50 milhões de euros, a farmacêutica está a remodelar a fábrica em S. Martinho do Bispo, expandindo-a em todas as suas vertentes, com a criação, por exemplo, no Centro de Investigação e Desenvolvimento de um novo laboratório que já está em pleno funcionamento. As novas instalações que estão a nascer em Eiras são o segundo projecto idealizado no âmbito do "Acelera 2030". Neste novo edifício, serão desenvolvidas moléculas de alta actividade terapêutica, representando na sua maioria, medicamentos para o cancro (95%). «São medicamentos complexos e diferenciados. Temos vindo a desenvolver cada vez medicamentos mais difíceis onde há menos competição e onde há maior valor», sublinha o presidente do Conselho de Administração da Bluepharma. Esta nova unidade, que se vai chamar ONConcept, vai ser no fundo «uma fábrica muito orientada para estas áreas do cancro. É uma unidade de ponta e as obras ainda estão a decorrer» esperando-se que, até ao final deste ano, estejam concluídas.
Por sua vez, o Bluepharma Park é um investimento para 10 anos a rondar os 150 milhões de euros. Para este espaço, já deu entrada na Câmara Municipal de Coimbra o pedido do licenciamento das obras da plataforma logística. Será o primeiro espaço a ser construído, face às necessidades da empresa, seguindo-se, quase de imediato, a criação da zona de embalagem, intervenção que deverá avançar também em breve face à falta de espaço em S. Martinho do Bispo.
Para a área de 35 mil metros quadrados de telhado – uma das maiores superfícies cobertas em Coimbra - a Bluepharma tem ainda projectado, dentro de quatro anos, a instalação de uma fábrica de injectáveis complexos. Dedicada ao fabrico de formas sólidas de medicamentos, a farmacêutica tem estado, desde há cinco anos para cá, a desenvolver injectáveis complexos. «São produtos de grande valor acrescentado, difíceis, mas temos pessoas a trabalhar já com forte conhecimento nestas áreas. A fábrica será para acomodar esses desenvolvimentos que estamos a fazer. Se surgir a oportunidade de virmos a colaborar na área das vacinas, tenho dito que estamos bem preparados para o poder fazer mas também dizemos sempre que não é uma coisa imediata. Licenciar, construir uma unidade, definir o projecto, adquirir os equipamentos, criar equipas, formá-las, começar a produzir, nunca antes de quatro anos para que isso venha a acontecer», explica.
Para o espaço restante do Parque que vai nascer em Cernache, a Bluepharma pretende atrair parceiros, «pequenas empresas que queiram estar connosco e que podem contar com o nosso knowhow como suporte, ou grandes empresas que se sintam confortáveis no Parque, com acesso a mão-de-obra qualificada». Coimbra, diz, «tem-nos dado uma vantagem competitiva muito grande porque tem mão-de-obra muito boa. A indústria farmacêutica é uma área em que as pessoas contam e são o principal activo. Temos pessoas muito bem preparadas e estamos a desenvolver-nos porque temos exactamente essas competências e essa credibilidade».