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Bluepharma investe mais €13,5 milhões em Coimbra

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Nas instalações da Bluepharma, em Coimbra, o ritmo das linhas de produção evidencia uma empresa muito diferente da que começou há quase 25 anos. O que nasceu como uma pequena fábrica de medicamentos genéricos, criada por um grupo de farmacêuticos, transformou-se numa estrutura industrial robusta com presença internacional. E a organização prepara-se agora para uma nova etapa.


Em março de 2026, ano em que assinalará um quarto de século, a empresa vai inaugurar, também em Coimbra, o Polo Tecnológico de Injetáveis Complexos, em Eiras, projeto com um investimento inicial de €13,5 milhões (com um incentivo de €4,8 milhões do Plano de Recuperação e Resiliência). O novo polo marca a entrada da Bluepharma na área das terapias avançadas, isto é, produtos que exigem formulações sofisticadas e processos altamente controlados. “e uma unidade pequena, mas extremamente dotada de tecnologias muito sofisticadas”, resumiu Paulo Barradas Rebelo, presidente do grupo, em entrevista ao Expresso. Este projeto vem somar-se a investimentos já realizados pela Bluepharma de €130 milhões, metade dos quais nos últimos cinco anos.


A abertura da nova infraestrutura projeta a próxima fase do grupo. Questionado sobre onde imagina a Bluepharma daqui a outros 25 anos, o executivo descreve uma empresa maior, mais dedicada àinvestigação e desenvolvimento (I&D) e preparada para trabalhar “de mãos dadas com as maiores empresas do mundo”.


Paulo Barradas Rebelo encara a atual instabilidade internacional como uma oportunidade para a indústria europeia. “o mercado dos Estados Unidos da América depende muito dos medicamentos genéricos, e são maioritariamente importados”, refere, convicto de que, num ambiente de incerteza, a Europa pode ganhar espaço. “Tenho esperança de que nós possamos, europeus, contribuir mais para o mercado norte-americano.” Atualmente, os EUA representam 5% a 6% da faturação da Bluepharma, mas internamente são vistos como a principal alavanca externa para a próxima década. “Temos esperança de que venha a ser o maior mercado da Bluepharma num horizonte de 10 anos”, aponta Paulo Barradas Rebelo. Em 2024, a Bluepharma Indústria faturou €82 milhões eeste ano deve chegar aos €85 milhões, mas a faturação total do grupo Bluepharma deverá superar os €100 milhões. Hoje um dos entraves mais significativos, sublinha o presidente da farmacêutica, éo preço dos medicamentos genéricos, que desceu para níveis que já não acompanham os custos reais da produção.


Medicamentos baratos


“Os medicametos hoje são mais baratos que chicletes”, lamenta. Apesar dos aumentos nos custos das matérias-primas, da energia e dos salários, os preços regulados permanecem praticamente inalterados. “A inflação nos medicamentos não compensa minimamente a inflação que temos em tudo”, reforça, descrevendo uma equação cada vez mais difícil de sustentar.


À pressão sobre os custos junta-se um problema que Paulo Barradas Rebelo considera estrutural e que continua sem resposta: os atrasos no pagamento do Estado. “Chega a ser um ano. Isto é incomportável e não é aceitável para um Estado de direito”, critica. E lembra que esta realidade está longe de ser nova, dizendo que o acompanha “desde criança”, um sinal de que se trata de um bloqueio que atravessa Governos e legislaturas sem solução à vista.


Também os concursos públicos hospitalares surgem, segundo o responsável, como um entrave adicional. A Bluepharma tem perdido adjudicações por diferenças mínimas muitas vezes “por um cêntimo” para empresas de geografias distantes. “Uma empresa que está em Coimbra perder por um cêntimo para outra do outro lado do mundo é quase imoral”, afirma, apontando o que considera ser uma incoerência entre as exigências ambientais e sociais impostas às empresas nacionais e os critérios utilizados pelo Estado na avaliação das propostas.