Farmácias e laboratórios prometem guerra à intenção do Governo de descer em 6% o preço dos medicamentos, caso Sócrates não recue. Para a próxima quinta-feira está agendada uma reunião entre os representantes das farmácias e a Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (Apifarma) para alinhar estratégias de “retaliação” caso o Executivo mantenha a imposição de descida dos preços. Ao que o Diário Económico apurou, está em cima da mesa a possibilidade das farmácias recusarem vender medicamentos aos utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) ou mesmo uma greve ao pagamento de impostos. Também a Apifarma já ameaçou retirar alguns medicamentos baratos do mercado. Medidas de protesto com um “impacto tão gravoso que não deviam sequer estar a ser equacionadas” mas que são inevitáveis face à situação, admitiu ao Diário Económico fonte do sector. A Associação Nacional de Farmácias (ANF) e a Associação de Farmácias de Portugal (AFP) garantem que mais uma descida de preços - a sexta nos últimos cinco anos - provocará uma crise económica e financeira profunda no sector das farmácias, levando a falências e despedimentos. Numa carta enviada a José Sócrates, na sexta-feira, o presidente da ANF, João Cordeiro, pede “a suspensão imediata” da medida. E aproveita para recordar ao primeiro-ministro que este lhe prometeu, em Outubro de 2006, na sequência de uma descida de 6% no preço dos medicamentos, “que seria a última vez que nos seria pedido tal sacrifício”, pode ler-se na carta enviada ao Governo. O Diário Económico tentou saber junto do gabinete de Sócrates se vai receber a ANF, mas não teve resposta até à hora de fecho desta edição. Por seu lado, a AFP acusa o Governo de criar uma “cortina de fumo” com a descida de 6% do preço dos medicamentos para “distrair a atenção da gravíssima penalização aos utentes” contida neste novo pacote de medidas (ver texto ao lado). “Estes 6% são o “embrulho” de uma medida cuja essência é a alteração dos escalões de comparticipação comum inevitável impacto brutal no custo para os utentes”, diz a AFP em comunicado.
Segundo dados ontem avançados pela ANF, e que ainda não reflectem as reduções de preço praticadas em Julho e Agosto, 13% das farmácias já viram alguns dos fornecimentos suspensos, uma situação que se agravou nos últimos seis meses. Em Junho, 1163 farmácias, num universo de 2800, demoravam mais de 90 dias a pagar aos seus fornecedores. Segundo apurou o Diário Económico, a situação é tão dramática que alguns dos fornecedores só colocam medicamentos nas farmácias com a garantia de contra-reembolso. O valor dos processos judiciais e de acordos para regularização de dívidas já ultrapassa 150 milhões de euros, tendo crescido 25% nos últimos seis meses. A descida de 6% no preço dos medicamentos já em Outubro será “devastadora” diz João Cordeiro, que acusa o Governo de andar “à deriva” no que respeita à política do medicamento e de “fazer campanha eleitoral” à custa dos medicamentos. De acordo com os dados da ANF, o mercado de medicamentos em ambulatório “está controlado”, ao contrário da despesa do SNS: em 2009 o mercado de medicamentos caiu 0,6%, enquanto os encargos do SNS cresceram 8,4%, e entre Janeiro e Julho de 2010 cresceram 9,1%.