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Paulo Barradas Rebelo destaca a nova unidade industrial de Eiras como um projeto diferenciador e único

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​Bluepharma instalou em Eiras uma unidade industrial única em Portugal

Fábrica de medicamentos sólidos orais potentes, na área do cancro, é uma das maiores da Europa. Tem capacidade para produzir 300 milhões de unidades, destaca Paulo Barradas, presidente do conselho de administração da Bluepharma.


Esta nova unidade da Bluepharma, localizada em Eiras e destinada à produção de formas sólidas orais potentes, nomeadamente na área do cancro, representa a continuação da aposta nos genéricos, agora mais diferenciada?


Esta nova unidade insere-se na nossa estratégia de diferenciação, de mais exclusividade. Começámos há muitos anos a produzir medicamentos genéricos, como é sabido, na nossa unidade de São Martinho do Bispo. Eram medicamentos genéricos de utilização na farmácia de oficina, porque eram esses que representavam a grande poupança que se podia e devia fazer, em Portugal e nos outros países. Quando começámos a produzir em Portugal, em 2001, não havia medicamentos genéricos no nosso país. Se nestes 20 anos Portugal tivesse evoluído de forma tão saudável como evoluiu nesta área dos medicamentos genéricos, teríamos um país diferente. O setor dos medicamentos genéricos fez poupar ao Estado português cerca de sete biliões de euros.

 
Portanto, a Bluepharma esteve na linha da frente da produção de medicamentos genéricos em Portugal?
 
 
Nós estivemos um bocadinho na dianteira. Tanto que quando começámos em Portugal não se vendiam os genéricos e tivemos que vender para fora primeiro, que exportar, antes de conseguirmos vender em Portugal. Hoje Portugal tem uma quota de mercado em unidades de genéricos de 50%, portanto estamos na média mundial. Mas somos ambiciosos e queremos ter mais, porque nos países ricos e desenvolvidos, mais industrializados que Portugal, os medicamentos genéricos têm quotas de mercado que podem atingir os 90%, como acontece por exemplo nos Estados Unidos.
 

Portanto, nós começámos com este movimento e vimos que estávamos a ser um valor muito importante para a sociedade, no que toca ao erário público, diminuindo a despesa pública neste montante, de sete mil milhões de euros. E, por outro lado, fazendo poupar dinheiro aos doentes portugueses, e isso para nós teve um significado muito especial. Além de fazermos estas poupanças, estávamos a criar postos de trabalho muito qualificados na nossa cidade e em Portugal. Hoje a Bluepharma tem 130 cientistas a trabalhar nesta área, para inovar e surpreender permanentemente o cliente com novos medicamentos genéricos.
 
Depois, como já produziam estes genéricos com sucesso, começaram o caminho da diferenciação?
 
 
Nós já produzíamos anti hipertensores, anticolesterolémicos, antidiabéticos orais, antibióticos, anti-inflamatórios. Trabalhávamos na área desses medicamentos menos diferenciados, muito de farmácia de oficina. Esta unidade representa a nossa estratégia de diferenciação. Nós sentimos, a determinada altura, que estávamos a ser reconhecidos pelas nossas capacidades científicas e técnicas e que deveríamos avançar para medicamentos mais difíceis, mais exclusivos e mais caros ao erário público também.
 
Era um novo desafio…
 
 
Um novo desafio. Isto aconteceu há 12 ou 13 anos, quando pedimos autorização e criámos as estruturas em São Martinho do Bispo para começarmos a desenvolver medicamentos sólidos orais potentes, que estão muito centrados na área do cancro e são responsáveis por uma grande despesa pública na área do medicamento e nos hospitais. Portanto, começámos a desenvolver esses medicamentos com sucesso, que fomos licenciando em empresas farmacêuticas em todo o mundo. Fizemos nessa altura uma parceria muito importante de portfólio com duas empresas alemãs. Isto representou a nossa entrada nas cadeias internacionais de fornecimento, uma grande oportunidade para vender as nossas tecnologias. Ao fim de algum tempo achámos que em vez de licenciar os medicamentos com produção lá fora, devíamos licenciar, sim, mas com produção cá dentro. Mas para isso precisávamos de ter uma “casa”, uma fábrica que desse acolhimento a essa estratégia. Assim, construímos esta unidade da Bluepharma. Parte do portfólio desta unidade é tripartido, dessa parceria que temos com as duas empresas alemãs e que foi determinante na nossa decisão de investimento.
 
 
Esta unidade, inaugurada a 1 de março, envolveu um investimento bastante avultado, de 30 milhões…
 
 
É uma fábrica única em Portugal, uma fábrica de medicamentos de alta potência, e é uma das maiores fábricas da Europa. Temos capacidade para produzir 300 milhões de unidades. Para lhe dar uma ordem de valor, Portugal consome 40 milhões destas unidades, por ano, nos hospitais. Portanto, é claramente uma fábrica virada para exportação, que nos permitiu também criar na cidade 100 postos de trabalho.
 
 
Esta nova unidade não só vem melhorar o acesso a este tipo de medicamentos, como também significa uma poupança?
 
 
Os medicamentos que temos cá representam em Portugal um mercado de cerca de 250 milhões de euros, que passando a medicamentos genéricos se transforma numa poupança para o Estado cerca de 200 milhões.
 
 
Estes números e esta conjunção de empresas mostra que o mercado internacional precisava de um projeto destes?
 
 
Sem dúvida. Principalmente o mercado europeu. Nós temos tido esta virtude de ir antecipando um bocadinho os acontecimentos. Quando os genéricos não existiam em Portugal, nós já falávamos neles e direcionamos o nosso projeto para os medicamentos genéricos. Fomos também, de certa forma, pioneiros quando começámos a desenvolver este tipo de medicamentos, que não eram desenvolvidos ainda em muitas empresas, e inovamos agora na área dos injetáveis complexos.
 
 
"Para já, estamos a fazer um Centro de I&D na área dos injetáveis complexos. Se tudo correr bem, em seis, sete anos, poderemos avançar com a unidade industrial de injetáveis".
 
 
A aposta seguinte é nos injetáveis complexos?
 
 
Começámos há cerca de seis anos também a desenvolver injetáveis complexos. Não temos a capacidade de os produzirmos. E os injetáveis complexos são, como o nome diz, matérias-primas muito complexas e com sistemas de circulação no organismo humano de grande complexidade também. O melhor exemplo de injetáveis complexos de que se tem falado muito são as vacinas. Temos um financiamento do PRR - Plano de Recuperação e Resiliência aprovado. É um projeto muito interessante porque envolve vários departamentos da Universidade de Coimbra e outras empresas parceiras da Bluepharma. Fizemos um consórcio de dez entidades, onde quatro são da universidade, e estamos muito esperançosos que venha a dar muito bons resultados e que nos dê a possibilidade de alavancar uma potencial fábrica de injetáveis complexos em Coimbra.
 
 
Será uma unidade nova. Para já, estamos a fazer um Centro de I&D na área dos injetáveis complexos, mas a intenção é migrar o nosso pequeno laboratório para um laboratório maior, com mais capacidade, fazer ao lado um centro de transposição de escala, da escala piloto para a escala industrial, e depois, se tudo correr bem, pensar mais tarde, em seis anos, sete anos, em avançar com a unidade industrial de injetáveis complexos.
 
 
Nós neste momento só produzimos sólidos orais, portanto, comprimidos e cápsulas, que são as fórmulas farmacêuticas que correspondem a 80% das necessidades do mercado. Não produzimos cremes, xaropes, injetáveis, supositórios, que iriam completar o nosso portefólio.

 

Entrevista Diário As Beiras
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